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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Relato: Insane TTRA Águas da Prata

Em setembro, logo no meu primeiro dia de férias, enquanto preparava um vídeo para divulgação do nosso cupom de desconto para a Copa Brasil Outdoor - Etapa Atibaia, dei uma topada com o dedinho no pé do sofá e fraturei lindamente aquele dedo.


Como a previsão era de ficar de molho por pelo menos 6 semanas para dar tempo do osso se consolidar novamente, foram para o ralo os meus planos de participar da Copa Brasil Outdoor em outubro, da Insane TTRA em novembro (cuja inscrição eu havia ganho num sorteio) e da Run Brasil Ride Botucatu em dezembro.

Para não ficar totalmente de fora do esporte enquanto me recuperava, acabei participando da Copa Brasil Outdoor como Staff em dois pontos do percurso (tirando o fato de eu ter tirado 25 carrapatos do meu corpo nessa brincadeira, foi uma experiência bem legal participar da prova como staff! O percurso estava lindo e o clima da prova estava bem parecido com o clima da CBO Pico das Cabras, que eu tanto gostei).

Algumas semanas depois da CBO Atibaia, fiz um novo raio X e o médico me liberou para voltar às atividades, de forma lenta e gradual. No mesmo dia eu decidi que iria participar da Insane TTRA, que contava com as distâncias de 7, 18, 25 e 45km. Segundo a organização, a diferença entre os 18km e os 25km era o perfil técnico da prova, com os 25km sendo mais exigentes.


Decidi que se ia até Águas da Prata (3h de viagem de SP), queria ir para ver a parte mais técnica, então decidi pelos 25km (os 45km, obviamente, estavam fora de cogitação por conta do tempo que perdi sem poder treinar).

Não parece muito... mas gráficos não mostram o terreno, né! rs
Como voltei a correr apenas 20 dias antes da prova, não consegui fazer nenhum treino na distância aproximada da prova, mas mesmo assim estava bastante confiante de que conseguiria terminar a prova bem e me divertir bastante no percurso.



A organização disponibilizou a opção de retirada de kits em São Paulo na quarta-feira da semana da prova, o que foi excelente para nós, uma vez que só conseguiríamos chegar à Águas da Prata no próprio sábado, no dia da prova.

Madrugamos no sábado e pegamos a estrada com destino à Águas da Prata. A viagem foi tranquila e chegamos com uma hora de antecedência para a largada dos 25 e 45km, então deu para estacionar o carro num lugar legal, ir ao banheiro, comer um segundo café da manhã (rs), passar o protetor solar (apesar de cedo, o sol já estava mostrando que não nos daria trégua) e fazer os últimos ajustes nas mochilas.

Faltando 15 minutos para a largada, orientaram os atletas para que se dirigissem ao "curral" de largada, onde o Renan (um dos diretores técnicos da prova) faria a verificação dos itens obrigatórios. Tudo Ok e fomos alinhar para a largada, encontrando alguns amigos de outras provas.

Aliás, apesar de a prova estar bem cheia (tendo se esgotado todas as vagas), essa foi a prova com menos gente conhecida que a gente já foi nos últimos tempos! rs

Últimas orientações dadas, dei meu selinho na Cris, desejei boa prova, soou a largada e lá fomos nós, por uns 400m de asfalto até iniciarmos a primeira subida do percurso, já em trilha, num zigue-zague que, aparentemente, era usado para bikes downhill, a chamada subida do teleférico.


Mão na coxa e coração na boca
Teve um pessoal que largou quente, como era de se esperar, mas eu estava tranquilo. Trotei o máximo que consegui dessa primeira subida, mas sem encanar com ritmo, posições, ultrapassagens.
Para quem estava acabando de voltar a correr, 25km era bastante chão, e eu não tinha pressa.

Ao chegarmos ao topo dessa primeira subida, marcada pela casa de máquinas abandonada do antigo teleférico, passamos a descer levemente em terreno de terra batida com bastante pedra solta, mas ainda estava me sentindo confortável, sem neuras com relação ao meu tornozelo bichado (cujos ligamentos foram escangalhados num treino preparatório para a Short Misión, em maio).






Saímos dessa propriedade rural, pegamos um pequeno trecho de estrada de asfalto e então fomos orientados a entrar à direita, acompanhando os trilhos do trem. Como o grupo em que me encontrava estava um pouco disperso, não tive problemas para atravessar o pontilhão de trem sobre um rio. Se eu estivesse num grupo mais "denso", certamente teria passado mal ao ter que pular de dormente em dormente olhando para o rio lá embaixo através dos vãos...rs


Continuamos correndo junto aos trilhos do trem por mais uns 4 quilômetros, ora pelos dormentes, ora pela brita, sem conseguir encaixar uma cadência confortável e sempre subindo. Saímos do caminho de ferro, tomamos uma trilha estreita e começamos um trecho muito lindo e muito técnico. Logo que demos de cara com o rio o grupo parou. Ninguém via marcação alguma... alguém do grupo conhecia mais ou menos a região e sugeriu que acompanhássemos o curso do rio, pelas margens.

Após uns 200m, finalmente encontramos uma fita zebrada e confirmamos que estávamos no caminho certo. Cruzamos o mesmo rio pelo menos uma dezena de vezes, com vários escorregões e sempre saltando sobre raízes e agachando sob troncos. Trecho bastante técnico e lindo, com diversas cachoeiras e vegetação intocada. Mas não dava pra desviar o olhar para as belezas do percurso, sob pena de tropeçar numa raiz, torcer o pé numa pedra e meter a testa num galho! rsrs

Não consegui tirar uma foto desse trecho, com medo de pegar a câmera e tomar um capote!

As panturrilhas começaram a chiar um pouco (misto de pouco tempo de volta aos treinos com o longo trecho no caminho de ferro, com o terreno técnico e escorregadio margeando o rio), mas no geral eu estava bem.

Fiz boa parte desse trecho e dos próximos na companhia do Beto, de Piracicaba, que eu havia conhecido durante a K21 Serra do Japi 2015. Isso foi essencial, pois em alguns trechos de trepa-pedra a união fez a força e foi bem mais fácil de superar os obstáculos em grupo.

Mais adiante encontramos uma fita cruzada no caminho principal, sinalizando que o caminho não passava por ali. Havia uma cerca à direita e uma estrada entre os eucaliptos à esquerda. Sem pensar duas vezes, disparei na estrada entre os eucaliptos até reparar que não via quase nenhuma pegada e não encontrava nenhuma fita... mesmo num local que, por ser uma bifurcação, obrigatoriamente deveria ter uma fita. Isso só poderia significar uma coisa: estava no lugar errado.

Comecei a voltar e dei de frente com um grupo de corredores. Outros vieram de onde eu estava vindo e confirmaram que também não havia nenhuma fita após a bifurcação. Voltamos à fita cruzada e vimos que o percurso seguia após a cerca, por dentro de uma propriedade. A marcação estava ali na cerca, mas o instinto falou mais alto e mandou seguir pela estrada. Talvez uma seta de cal no chão tivesse facilitado a navegação nesse trecho...

Dali pra frente seguimos num grupo de uns 10 a 12 corredores, cada um procurando a marcação de um lado e sinalizando aos demais quando o caminho certo era encontrado.

Iniciou-se, a seguir uma subida curta e grossa, num zigue-zague bem marcado pela organização, com estacas pintadas de amarelo e setas pintadas em pedras.



Já havíamos passado a metade do percurso e nada de conseguir desenvolver a corrida, pois o terreno estava sempre travado. Uma vez no topo, pensei que daria para recuperar um pouco do tempo soltando as pernas na crista do morro e ladeira abaixo. Que nada! Esse trecho continha tantas pedras soltas escondidas sob a vegetação que o desenvolvimento era ainda mais lento do que na subida!





O visual era espetacular, mas não dava pra correr e nem para apreciar a paisagem, senão o tombo era garantido. Comecei a ficar cismado com meu tornozelo nessa hora e já estava praticamente implorando para voltar a correr nos trilhos do trem! hehehe



Meu pedido foi uma ordem. Acabada a descida punk (perdendo aproximadamente 400m em 1,5km - Morro das Duas Tetas?), voltamos à linha férrea. Na minha cabeça era só seguir ali por mais uns 4km e então retornar de onde eu tinha largado.

Surpresa!

Tinha um "morrinho" novo do qual eu não me lembrava de ter visto no gráfico - o Morro da Fita Cassete (ou algo assim). Eu normalmente adoro subidas, mas pense numa criança triste... era eu quando o staff mandou sair dos trilhos e subir o morro pelo single track. Foram quase 300m de ganho em 1km de subida implacável com um sol igualmente implacável fritando os miolos!

Eu queria muito parar pra descansar, mas não tinha uma só sombra para me abrigar, então segui adiante. Acabada a subida, o percurso descia por umas centenas de metros ainda em single track e então saía de frente a um PC muito bem abastecido com água e isotônico gelados, onde o percurso dos 25km se unia ao percurso dos 18km!

Ajudei a encher o reservatório da mochila de um corredor, tomei fartas goladas de água e matei um sachê de isotônico trincando de gelado e disparei ladeira abaixo, agora por estrada de terra. Finalmente daria para desenvolver um pouco a corrida e soltar as pernas!

Teriam sido dois quilômetros sublimes de descida alucinada se eu não tivesse passado por uma corredora dos 18km e ela não tivesse falado que eu estava no caminho errado e que ali só os 18km iriam passar... Dei uma "brochada", diminuí o ritmo e comecei a passar mal com todo o líquido que eu havia ingerido rapidamente no PC.

Nem ferrando que eu iria subir tudo aquilo para confirmar se eu estava no percurso certo ou não. Na altura do campeonato, eu só queria concluir. Se eu estivesse no percurso errado, depois eu informaria a organização e pediria para me desclassificarem... mas naquele momento eu não ia subir tudo de novo pra tirar essa dúvida.

Segui adiante, porém desmotivado... bem desmotivado. Parava para caminhar mesmo no plano, fritando ao sol.

Passei por um staff que me orientou a descer até o asfalto e então virar a esquerda (e esqueci de perguntar a ele se o percurso dos 25km deveria passar por ali também). Fui até o asfalto, encontrei as marcações do percurso e percebi que já havia passado por ali no início da prova, então não faltava muito para o final.

Saindo do asfalto, voltei à propriedade rural do início do percurso, passei direto por mais um PC e iniciei a última subida do percurso, que era de uma inclinação bem tranquila se eu não estivesse tão acabado. rsrs

Avistando a casa de máquinas abandonada eu sabia que restavam apenas dois ou três quilômetros para o final. Dei uma animada e comecei a descer o single track como se não tivesse mais medo de torcer o pé. Fui acelerando, acelerando, comecei a ouvir o som que vinha da arena lá embaixo e fui ficando mais e mais animado!

Terminei a descida, saí da trilha e pensei em aproveitar os 400m de asfalto para sprintar em direção à chegada. Minhas panturrilhas discordaram, então reduzi as passadas e aproveitei os últimos metros trotando pelo centro da cidade, cruzando a praça e atravessando a rua tranquilamente até cruzar o pórtico de chegada, sadisticamente posicionado numa subida.



Foram 25km bastante técnicos, travados e lindos, superados em 4h07 (pois é! 4 horas para fazer 25km! Padrão KTR! rs).



Menos de uma hora depois foi a vez da Cris cruzar a linha de chegada (enquanto eu enfiava minha cara num crepe de frango com catupiry e tomava uma coca cola geladinha - coisa que eu queria fazer pelo menos desde o km 12 da prova! hahaha), garantindo o 8º lugar entre as mulheres e o 3º lugar na faixa etária.





A organização havia prometido um percurso lindo e brutal e não decepcionou. A estrutura, em geral, também estava muito boa, com uma arena com food trucks, comércio local e bastante facilidade para estacionar os carros.

Considerando o esmero que tiveram na marcação do percurso em outros trechos, só posso deduzir que os locais onde marcação era inexistente ou deficiente foram fruto de sabotagem (por parte de atletas ou habitantes locais).
Fora isso, não tenho do que reclamar da prova. No que me diz respeito, a Insane TTRA foi um sucesso e tem tudo para se consolidar no calendário do trail nacional (segundo informações divulgadas na arena, parece quem em 2018 serão 4 etapas de prova. Torço para que isso se concretize).

E agora chega de provas em 2017. Vamos curtir o treinão da Mantiqueira Trail Running nos dias 16 e 17 de dezembro e então férias!

A gente se tromba nas trilhas! ;-)

6 comentários:

Unknown disse...

Participei apenas dos 7k, mas adorei,foi minha primeira prova de montanha...e sim vão ser 4 etapas em 2018, já tem o calendário no site da Insane TTRA

Gabriel C. disse...

Parabéns pela prova! Com certeza foi a primeira de muitas =)
Vou lá olhar o calendário, pois quando escrevi o texto ele ainda não havia sido publicado. Obrigado!

Anônimo disse...

Grande Gabriel! O.mais legal de ler seu relato é saber 80% dele exatamente igual ao meu !! E naquele trecho de mata fechada a parceria foi essencial mesmo! E mais uma vez foi um imenso prazer poder encontrá-lo! Fique com Deus e grande abraço!

Beto Marques

Gabriel C. disse...

Valeu pela companhia, Betão! Até a próxima! Abraço

Walmir disse...

Muito legal e divertido os seus relatos sobre as Provas. Parabéns!

Gabriel C. disse...

Obrigado pelo comentário, Walmir. Bons treinos!